As complexas relações ecológicas entre os seres vivos e ameaças à biodiversidade pela introdução de espécies exóticas

Fala aí galera!!!

Levanta a mão quem gosta de Ecologia aqui, mas espera aí... você sabe o que é a Ecologia e o que se estuda?
Ecologia tem origem no grego Okologie que deriva de oikos que significa casa, e logos estudo, logo o 'estudo da casa', ou então o estudo de onde se vive. Esse termo foi criado pelo cientista alemão Ernst Haeckel para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o meio ambiente, assim como a distribuição e abundância das espécies no planeta Terra, e a compreensão do nível de organização entre elas.

Fig 1. Natureza = casa dos seres vivos

Essas interações podem ser intraespecíficas (quando ocorre entre seres vivos da mesma espécie), ou interespecíficas (quando ocorre com seres vivos de espécies diferentes), porém dentro desses dois grupos pode haver relações harmônicas (positivas) ou desarmônicas (negativas).

Agora vamos ao foco dentro da Ecologia que queremos discutir ☺

Vamos refletir um pouco...
Você acha mesmo que o ser humano consegue compreender todas as complexas relações ecológicas que acontecem entre os seres vivos, de diferentes espécies, e em diferentes biomas? Você acha que o ser humano tem conhecimento suficiente e o poder de interferir em algo tão natural para poder salvar uma espécie? Você acha que ele pode mais ajudar ou atrapalhar?
Ele pode estar ajudando uma espécie, mas não pode estar prejudicando simultaneamente uma outra? Ou sempre dá para ajudar todas as espécies envolvidas?

A resposta de todas essas perguntas virá de exemplos muito interessantes que encontrei num livro chamado: "A longa marcha dos grilos canibais - e outras crônicas sobre a vida no planeta Terra". O autor Fernando Reinach reúne no seu livro vários artigos acadêmicos contados em forma de história, de forma simples e lúdica, assim no final de cada 'crônica/artigo' ele faz referência ao artigo, o qual está fazendo a releitura.

A complexa relação entre girafas, árvores e formigas


O nome da primeira crônica é "A complexa relação entre girafas, árvores e formigas". Um grupo de ecólogos decidiu isolar um grupo de acácias para fazer um estudo. A acácia é a família das Leguminosas, que na maioria dos casos são espécies arbóreas ou arbustivas (algumas de grande valor econômico enquanto produtoras de madeira, gomas, vagens comestíveis e etc). Era esperado que as acácias isoladas fora do alcance de herbívoros crescessem mais saudáveis e deixassem mais descendentes. Porém o observado foi totalmente o contrário, após um tempo as acácias estavam murchas e mirradas... O que poderia ter acontecido? Qual a explicação? Os ecólogos então ao analisar atentamente e comparar as árvores de uma região que estava ausente de herbívoros por cerca de 15 anos, com uma área onde esses eram presentes tiveram uma descoberta incrível. 

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Fig 2. Acácia típica de savanas
Os herbívoros são responsáveis por fazer a poda constante daquelas árvores, que atraem um tipo de formiga que mora no interior de espinhos ocos e se alimentam dessa seiva. Essas formigas defendem ativamente seu habitat e alimento de qualquer outro animal que encoste ou suba na árvore, principalmente de formigas que cortam suas folhas e permitem que outros seres vivos façam o mesmo ou até cavar buracos no interior do caule. As primeiras protetoras são chamadas pelo autor de "formigas do bem" e as segundas invasoras são chamadas de "formigas do mal".

Então a descoberta foi que girafas e elefantes que fazem a poda frequentemente, liberam a seiva que atrai as formigas do bem, e essas por sua vez com seu comportamento agressivo defendem sua moradia e alimento, fazendo assim uma proteção eficiente contra seres vivos que ocasionariam o enfraquecimento das acácias. Porém, sem o suprimento constante de seiva, (sem a poda pelos herbívoros) as formigas protetoras perdem a competição contra as formigas oportunistas.

Os ecólogos acharam que o problema estava nos seres vivos de grande porte, como os mamíferos herbívoros (girafas e elefantes), quando o problema principal estava em animais de pequeno porte, como insetos (formigas). Então, por isso é importante que todos nós reflitamos sobre esse caso. É preciso muitas vezes estudar melhor uma relação, desde pequenos organismos, pois algumas vezes a chave da resposta está justamente neles, ou em até outro ser menor. Todos os seres vivos devem ser estudados e analisados da mesma forma, pois a vida é diversa, é macro e microscópica, e nada deve ser deixado de lado.

Por último o autor diz que um dos principais erros cometidos pelos conservacionistas é achar que sabem o suficiente sobre os seres vivos e suas relações com o meio ambiente para poder manejá-los da melhor forma. Mas o mais triste é saber que a destruição dos homens aos ecossistemas está acontecendo de maneira tão rápida e de forma tão devastadora que muitos habitats já deixaram de existir sem que ao menos pudéssemos compreender como são regulados, ou quais relações ali existiam.

Extermínio em busca do pacífico


A outra crônica para fechar o pensamento chama-se "Extermínio em busca do pacífico" para discutirmos sobre a inserção de animais exóticos, ou seja, animais que geralmente não ocorreriam em certos habitats (pois foram introduzidos pelo homem de forma acidental ou proposital), essa situação pode ser somada com a ausência de predadores para poder equilibrá-los no meio ambiente. Na Ilha de Isabela em Galápagos, ecólogos financiados pela ONU fazem o extermínio de cabritos montanheses, que foram levados para lá no século XIX. Sem predadores naturais eles se multiplicaram em uma velocidade muito grande, desse modo elas devastaram quase todo o pasto. A meta era exterminar 150 mil cabritos que estavam em 458 mil hectares da ilha. No Havaí na ilha de Lysan, o problema ocorreu com os coelhos, eles extinguiram 26 espécies de plantas em 20 anos. Já no arquipélago de Kerguelen, a soltura de uma gata e seus 3 filhotes geraram 3500 descendentes em 1950, que comeram muitas aves! Na ilha de Santa Cruz os humanos introduziram os porcos que exterminaram as raposas nativas, por sua vez ao longo dos anos, os filhotes de porcos atraíram águias da Califórnia. Isso ajudou a reduzir o número elevado de porcos, porém as águias começaram a atacar também as raposas nativas restantes... Um problemão surgiu novamente!

Fig 3. Animais que viraram pragas em ilhas

Os programas de extermínio não são muito divulgados, e são melhor sucedidos em ilhas onde o espaço de terra é mais restrito, especialmente se for exterminar animais maiores como gatos, cabritos, coelhos, raposas. O objetivo é falho quando se pretende exterminar plantas ou insetos, como também em grandes pedaços de terra, como os continentes, onde a tarefa chega a ser inviável/impossível.

Vou colocar esse último parágrafo em que o autor coloca sua forte opinião e crítica sobre toda essa situação preocupante: "É a prepotência do bicho-homem, que descobriu a ética, a ecologia e sofre culpa de estar alterando os ambientes em que vive. Nossas tentativas de manipular ecossistemas complexos são totalmente inúteis. Assim como os furacões, o instinto de reprodução e a competição entre espécies são forças poderosas demais para serem controladas. Se desejamos restringir nosso impacto no planeta, o melhor é controlar o número de humanos e suas atividades predatórias. O erro é acreditar que nossa capacidade de destruir ecossistemas nos habilita a controlar a interação entre os seres vivos e o meio ambiente." O que vocês acham dessa opinião?


Concluindo...


Como vocês puderam ver a Ecologia não é um ramo de estudo simples, pode parecer, mas sua essência é muito mais complexa do que imaginamos. Para o ser humano poder interferir nas relações entre os seres vivos com o meio ambiente é necessário, sem via de dúvidas, muitos estudos aprofundados, não apenas em animais de grande porte, mas principalmente naqueles de pequeno porte. Cada ser vivo cada um exerce seu nicho ecológico em diferentes graus, desde pequenos a grandes impactos numa relação ecológica e nenhum deles deve ser descartado ou diminuído, todos resultam numa consequência que deve ser minuciosamente analisada.

Nós enquanto homens já destruímos muito a nossa casa e a casa dos outros seres vivos que é a natureza, e na minha opinião, podemos e devemos melhorar esse estrago que causamos, mas antes disso é preciso muito cuidado antes de fazer qualquer ação direta, pois essa pode ser totalmente irreversível, é por isso que precisa-se estudar mais e conhecer mais os diversos ecossistemas e diversas relações, para que salvemos o que ainda nos resta. Por isso o papel do biólogo é fundamental, pois o seu conhecimento e formação acadêmica lhe permite estratégias eficientes para poder manejar o ecossistema a ponto de não interferir de maneira agressiva, mas de maneira neutra, fazer o que é possível sem 'controlar' a interação entre ser vivo e meio ambiente, mas fazer o que é possível sem alterar relações ou ambientes (ou alterar de maneira sutil que não cause dano as outras espécies). Porém como o autor diz, existem relações e fatos que não são possíveis de serem controladas pelo homem, ou seja, diante dessas situações os biólogos sabem que não é possível interferir, pois não surtirão efeitos positivos.  Mas como digo, ainda precisa-se de muito estudo para que os biólogos atuem de maneira mais precisa e eficaz para evitar erros, ou seja, cometer o mínimo de falhas possíveis.



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Fig 4. Estudar nos faz enxergar além do horizonte


Também é necessário destacar que é preciso mais fiscalização sobre as atividades predatórias, desmatamento e tráfico de espécies por parte dos governos estaduais e federais. Se conseguíssemos diminuir essas ações maléficas para os ecossistemas ocasionados pelos seres humanos, seria mais fácil manter um ambiente mais estável e saudável para várias espécies, mantendo a biodiversidade e as relações biológicas.

É exatamente por isso que escrevi esse artigo, para que reflitamos mais sobre as consequências das ações humanas, sobre o quanto podem ser benéficas se existir mais estudo, compreensão e consciência ecológica. Mas também para vocês terem o conhecimento de quanto o ser humano falhou tentando salvar espécies, destruindo ecossistemas/relações que já estavam em situações críticas.

O que você achou de tudo isso? Nos conte mais sobre a sua opinião sobre esse assunto polêmico de introdução de espécies, manejo inadequado de ecossistemas e quais alternativas você daria para melhorar nossa casa. Se quiser saber onde e como encontrar esse livro, escreva nos comentários que te ajudaremos.

AGRADECIMENTO ESPECIAL
Preciso agradecer a revisão feita pelo Professor Carlos Leandro Firmo mestre em Zoologia, docente  do Curso de Ciências Biológicas na Universidade São Judas Tadeu que dedicou parte do seu tempo para melhorar o texto com termos específicos e científicos, além de incentivar e divulgar o projeto do blog para todos.

Autora: Larissa Dias
Revisão complementar: Ayrton Carvalhedo


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